sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Afinal o que faz um Acompanhante Terapêutico ser considerado um Acompanhante Terapêutico?




Otávio Beltramello
Verônica Bender Haydu
Nádia Kienen



Um dos fazeres responsável pelo acompanhamento de pessoas com transtornos psiquiátricos, deficiência física, dependentes químicos, crianças e adolescentes com dificuldades no processo de escolarização e idosos no enfrentamento de situações decorrentes do envelhecimento, é denominado Acompanhamento Terapêutico (AT). O AT é um serviço que ocorre em variados locais, como em escolas e nas casas das pessoas acompanhadas. Trata-se de um serviço em que o profissional auxilia seu cliente realizando juntamente com ele atividades cotidianas, com o objetivo de maximizar suas condições de autonomia em atividades diárias. E é por conta dessas características que esse tipo de fazer apresenta algumas particularidades que exigem do profissional um repertório clínico bastante sofisticado (Zamignani, Vermes, & Kovac, 2007).
Na Psicologia, apesar da existência de diferentes contribuições científicas para a definição do AT, ainda há a necessidade de mais investigação sobre os comportamentos do psicólogo envolvidos com a prestação desse serviço. Como exemplo, a produção científica sobre AT, embora variada e diversa, pouco tem contribuído para a formulação de uma definição consensual do que caracteriza esse tipo de serviço. Isso porque os pesquisadores, em geral, ao realizarem investigações sobre o AT, têm utilizado metáforas para se referir aos comportamentos que o profissional deve desempenhar neste tipo de acompanhamento. Como exemplo, há pesquisadores que apontam que o acompanhante terapêutico é o profissional responsável por articular uma “rede terapêutica” que propicia aos acompanhados a possibilidade de desenvolvimento de “novas referências” (Nogueira, 2009). Aqui, “rede terapêutica” é uma metáfora utilizada para fazer referência aos comportamentos do profissional ao se relacionar com diferentes profissionais e instituições (por exemplo, psiquiatras, psicólogos e instituições como a escola), enquanto “novas referências” se refere ao desenvolvimento de comportamentos (do cliente) que lhe propiciam uma maior autonomia.
O uso de metáforas para se referir a comportamentos afasta a identificação dos reais componentes desses comportamentos. Como exemplo, pense que você está buscando serviços em um jornal, e que ao encontrar um anúncio de vaga para um serviço, a função está descrita no anúncio como: “bater fio”. Imagino que isso tenha lhe produzido um estranhamento inicial e/ou confusão. Pois bem, “bater fio” é uma metáfora para se referir a comportamentos como os de atender ao telefone, conversar ao telefone ou realizar uma ligação telefônica para alguém. E agora perguntamos, qual é o serviço anunciado no jornal? Será que você deve atender ou realizar ligações? Será um serviço de secretaria, de telemarketing, ou de atendente? Ou será que estamos errados e na verdade se trata de um emprego que envolve a costura de roupas?
Esse exemplo, embora extremado, parece demonstrar a problemática existente ao utilizarmos metáforas para fazer referência a comportamentos. É nesse sentido que a pesquisa que originou este texto vem sendo desenvolvida: há a necessidade de investigação do que o acompanhante terapêutico faz. Estamos, portanto, propondo investigar quais são os comportamentos característicos da intervenção de um psicólogo que atua como acompanhante terapêutico na sociedade. Isso significa, primordialmente, superar o uso de metáforas e de construtos para se referir aos comportamentos.
            Em nossa pesquisa realizaremos uma avaliação minuciosa de livros publicados sobre AT, onde serão identificados quais são os comportamentos primordiais para que esse serviço ocorra. Para isso, contamos com um procedimento que nos permite não só identificar, mas também avaliar e corrigir a linguagem que tem sido utilizada para se referir aos comportamentos. Buscamos assim, contribuir com a dissolução de parte das problemáticas existentes em relação à atuação do psicólogo como acompanhante terapêutico no Brasil. Por fim, esperamos que os dados produzidos pela pesquisa possam atingir professores, pesquisadores, profissionais e, principalmente, as pessoas que necessitam desse tipo de atendimento.

Caso queira saber mais sobre o Acompanhamento Terapêutico:

Zamignani, D. R.; Kovac, R. e Vermes, J. S. (2007). A clínica de portas abertas: Experiências e fundamentação do acompanhante terapêutico e da prática clínica em ambiente extraconsultório. ESETec, 412 p.
Londero, I. (2010). Acompanhamento Terapêutico: Teoria e técnica na terapia comportamental e cognitivo-comportamental. GEN & Santos, 166 p.

 

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