sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Esquecer. Um problema?





Heiny Harold Diesel
Verônica Bender Haydu

Tudo que é aprendido pode ser esquecido. Cada nome, endereço ou senha que exige que algo seja lembrado contém nessa própria condição a possibilidade de que algo seja esquecido. Dentro de um contexto cotidiano, talvez a consequência de esquecer um nome, localização ou outra trivialidade nem se note, em outros contextos o esquecimento pode ser até benéfico, já para um contexto jurídico esquecer de algo pode não ser uma boa. Esse tema é certamente um assunto que interessa a muitos e impulsiona vários campos de pesquisa, como tem ocorrido desde Ebbinghaus (1885) ao estudar memória de longo prazo até autores da Análise do Comportamento como Catania (1984) ao propor propostas interessantes de estudos de memória. O esquecimento é um fenômeno do nosso cotidiano e compreender seu funcionamento parece ser uma tarefa importante uma vez que a depender do contexto, consequências diferentes o seguem.
É tentador atribuir características negativas para o esquecimento já que esquecimento em demasia realmente pode ser um problema. Porém lembrar em excesso também pode gerar complicações. Um indivíduo com capacidade de lembrar segundo a segundo do que viveu em um dia, talvez levaria um dia inteiro para lembrar o que aconteceu no dia anterior, caso se engajasse nessa tarefa. Abstrair, organizar, categorizar e até mesmo esquecer, são condições que favorecem que o indivíduo fique sobre controle de eventos presentes, atuais e até futuros. Como lembrar que seu aniversário está chegando e programar algo divertido com pessoas que você gosta. Outros possíveis benefícios do esquecer podem estar relacionados com a economia cognitiva e a adaptação ao meio em que o indivíduo vive (Izquierdo, 2006).
Afinal, esquecer é ou não um problema? Para responder essa pergunta talvez seja necessário a utilização de um dos mais clássicos jargões: Depende. Não parece correto imputar de pronto aspectos negativos e apenas esses, quando tratamos do esquecer. Parece necessário olhar para a relação entre o que é esquecido e as consequências (individuais, sociais entre outros aspectos). É quase certo, a não ser que algo tenha sido esquecido entre o começo, o desenvolvimento e a finalização deste material que a aparente ausência de resposta “sim” e “não” sobre a pergunta contida no título esteja mais para um exercício de raciocínio livre do que para um esquecimento corriqueiro.

Referências

Ebbinghaus, H. (1885/1962). Memory: A contribution to experimental psychology. New York: Dover.

Catania, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Artmed, Porto Alegre, 1999.

Izquierdo I. Memória. Porto Alegre: ArtMed, 2006.

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