segunda-feira, 21 de novembro de 2016


“Liderança organizacional” ou “liderar pessoas”... Qual a diferença?



Nayara Janaína Machado Neri
Nádia Kienen

 Qual a importância de um líder dentro de uma organização? Quais características estão relacionadas com uma “boa liderança”? Como “desenvolver habilidades de liderança”? Qual o melhor “estilo de liderança” a ser utilizado em cada contexto? Essas e tantas outras perguntas são recorrentes quando o tema é liderança organizacional. No entanto, apesar de todos os questionamentos, parece haver um consenso entre pessoas que estudam e/ou atuam na área organizacional de que este é um fenômeno que impacta diretamente no comportamento das pessoas que participam da organização, e consequentemente, nos resultados produzidos por ela.
Apesar da relevância desse tema, que se evidencia, por exemplo, no amplo número de treinamentos, cursos, livros e material de apoio disponível, parece não haver uma clareza de como os aspectos relacionados a uma liderança eficiente (que variam muito de autor para autor) são colocados em prática. Ademais, percebe-se que ainda há muita subjetividade envolvida na descrição dos comportamentos de liderança. “Desafiar o estabelecido”, “inspirar uma visão compartilhada”, “permitir que os outros ajam”, “apontar o caminho” e “encorajar o coração” são algumas expressões comumente utilizadas para descrever comportamentos que o líder deve apresentar (Benedetti, Hanashiro, & Popadiuk, 2004, p.62). Esses são exemplos de nomeações que pouco explicam sobre o comportamento do líder e tampouco sobre as consequências produzidas por estes no ambiente organizacional e nos liderados. Uma das implicações da utilização desses termos é a dificuldade de caracterização do fenômeno, e consequentemente, de identificar e ensinar alguns comportamentos básicos que o líder necessita aprender para estabelecer uma liderança efetiva no ambiente organizacional. 
Uma forma de avaliar esse fenômeno de maneira mais direta é pensar sobre ele não mais na forma de um estado substantivado (a “liderança”), mas sim como comportamentos que são apresentados pelo líder em sua interação com o meio.   Nesse caso, elimina-se a menção a uma “liderança organizacional”, e no lugar disso, menciona-se  o  comportamento de “liderar pessoas”. Sendo o comportamento constituído sempre a partir da relação entre estímulos antecedentes, respostas e estímulos consequentes, ou seja, o líder se comporta em uma organização dentro de um determinado contexto (situação), apresentando respostas (ação) que alteram esse ambiente, da mesma forma que o ambiente altera as respostas por ele apresentadas (consequência) (Skinner, 1953/2003).
A partir disso, perguntas como: “Quais comportamentos um líder necessita apresentar para liderar de maneira efetiva as pessoas de sua equipe?”, ou “Quais variáveis estão relacionadas com o comportamento de liderar pessoas em um contexto organizacional?”, poderiam contribuir para respostas mais concretas, uma vez que se passaria a olhar para as variáveis que podem estar controlando o comportamento de “liderar pessoas”. É a partir da identificação das variáveis que controlam um comportamento que é possível avaliar quais delas devem ser rearranjadas para que seja possível aumentar a probabilidade de um comportamento ser aprendido e apresentado de uma determinada maneira. Kienen, Kubo e Botomé (2013) discutem a importância de rearranjar as contingências nas quais um aprendiz está inserido (neste caso, o líder) a fim de que se aumente a probabilidade de que, ao término do processo de ensino, ele esteja apto para emitir os comportamentos definidos como comportamentos a serem ensinados (comportamentos-objetivo).
Mas antes mesmo de pensar em quais as condições serão criadas para que um novo comportamento seja ensinado, é preciso descobrir e caracterizar os comportamentos menos complexos que o constituem. Por isso, caracterizar quais são os comportamentos que o líder deve apresentar é condição essencial para pensar no planejamento das condições de ensino.
Portanto, identificar por meio de estudo científico quais comportamentos caracterizam o comportamento de “liderar pessoas”, pode ser um começo para entender melhor esse fenômeno e seus impactos nas organizações. Após essa caracterização, outras decorrências poderão surgir, como a aplicação desse conhecimento científico no contexto organizacional, por meio de estratégias e práticas como: a descrição precisa da função do líder a partir das descobertas dos comportamentos que deve apresentar (descrição do cargo) e maior clareza sobre os comportamentos que devem ser ensinados em treinamentos de liderança para o desenvolvimento de um repertório efetivo. Essas práticas podem resultar em líderes mais bem preparados e consequentemente, em melhorias efetivas nos ambientes organizacionais, na realização das tarefas e principalmente, na relação entre as pessoas. 

Referências
Benedetti, M. H., Hanashiro, D. M. M., & Popadiuk, S. (2004). Liderança: uma relação com base no gerenciamento de Stakeholders, a partir da ótica dos liderados. Organizações & Sociedade. 11 (31). 59-76.

Krapfl, J. E. & Kruja, B. (2015). Leadership and Culture. Journal of Organization Behavior Management. 35 (1-2). 28-43.

Kienen, N., Kubo, O. M. & Botomé, S. P. (2013). Ensino Programado e programação de condições para o desenvolvimento de comportamentos: alguns aspectos no desenvolvimento de um campo de atuação do psicólogo. Acta Comportamentalia. (21), 4. 481-494.

Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.




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