segunda-feira, 31 de julho de 2017

Bullying na educação física existe ou não existe? Eis a questão!




Greicy dos Anjos

Verônica Bender Haydu

Silvia Regina de Souza

A hora da educação física é vista por muitas pessoas como a hora da brincadeira e da diversão. Ela está, muitas vezes, associada a momentos de descontração com os colegas e de realização de atividades prazerosas. As aulas de educação física se constituem no ambiente onde o ensino de habilidades como cooperação, enfrentamento de estresse, tolerância à frustração e atraso de recompensa podem ser trabalhados, dando suporte a educação social dos alunos. Contudo, esse pode ser também o momento em que “os nervos ficam a flor da pele”. Isso porque nas aulas de educação física pode haver um clima de competição tendo em vista que as atividades propostas podem levar a comparação de desempenhos. Nessas situações, pode haver a ocorrência de xingamentos, uso de apelidos entre os colegas e até brincadeiras violentas, que muitas vezes são vistas como inofensivas por quem as pratica. Mas, será que essas atitudes são mesmo inofensivas? A ausência de habilidades necessárias para a prática de esportes e atividades físicas, aliadas a professores despreparados para o exercício de sua função, pode contribuir, sim, para a ocorrência do que conhecemos como bullying.
O conceito de bullying vem sendo discutido há algum tempo por educadores e cientistas (Stelko-Pereira & Wiliams, 2010). O bullying pode ser definido como um tipo de violência entre pares e que ocorre de forma sistemática contra uma pessoa ou grupo, sem motivação aparente. Existem diversas matérias de jornais que denunciam sua ocorrência e suas consequências, como brigas, evasão escolar, crianças e adolescentes que desenvolvem depressão, e alguns chegam a cometer suicídio por passarem por situações de humilhação frequente no ambiente escolar. Por essa razão, o bullying é um fenômeno que deve ser discutido e melhor tratado.
Quando se trata de bullying e atividade física, o relato que se ouve é o de que experiências ruins nas aulas de educação física contribuíram para a interrupção de atividades dessa natureza. Esses discursos, geralmente são acompanhados de outros, como: “não sou bom em esportes” ou “não gosto de praticar atividades físicas e esportes”. Sabe-se, contudo, que a pratica regular de atividades física e esporte, quando bem conduzidas, contribuem para uma melhor qualidade de vida e de interações sociais.
A pratica de atividade física está diretamente relacionada à saúde e a prevenção de doenças. Praticar atividades físicas regularmente gera diversos benefícios para o organismo, entre eles a prevenção e controle de doenças como as cardiovasculares e a diabetes, e a aceleração do metabolismo (maior facilidade em perder peso ou maior dificuldade em ganhar peso). Além da liberação de substâncias relacionadas ao prazer e bem-estar. Experiências negativas no contexto escolar em relação a pratica de atividades físicas podem interferir no engajamento nesse tipo de atividade na fase adulta (Williams, D’Affonseca, Correira, & Albuquerque, 2011).
Nesse sentido, para evitar a ocorrência de bullying nas aulas de educação física é importante que o profissional que atua nessa área esteja preparado. Embora cada situação seja única, são dadas, a seguir, algumas dicas que podem auxiliar os professores a prevenirem a ocorrência de bullying ou a lidarem adequadamente com elas. As dicas são:
1.      Planeje sua aula com o objetivo de minimizar situações que possam ser conflituosas e competitivas, sempre deixando claro os limites e as regras do jogo (Weimer, 2014). Nas situações em que ocorre algum tipo de conflito, caso as regras e os limites estejam bem estabelecidos, o espaço de questionamento diminui, diminuindo também a probabilidade de ocorrência de episódios de violência e conflitos durante as aulas.
2.       Proponha atividades que possam ser realizadas por todos os alunos. Desse modo, o aluno menos habilidoso tem a oportunidade de fazer parte do grupo e o mais habilidoso a lidar com situações que, para ele, poderiam ser conflituosas.
3.      Priorize atividades nas quais todos os alunos participem e crie condições para que os alunos se saiam bem nas atividades propostas. Para que isso ocorra, é importante que sua aula seja preparada levando em consideração as habilidades e déficits de cada aluno no que se refere às atividades físicas e esportes. Sentimentos de autoconfiança estão relacionados a comportamentos bem-sucedidos.
4.      Promova diálogos e debates entre e intrassalas, a fim de aumentar o conhecimento dos alunos sobre esse fenômeno. Discuta com eles o que é bullying, quais as consequências para os envolvidos nesses episódios e formas de denunciar a ocorrência desse tipo de violência.
5.      Oriente os pais acerca do conceito de bullying. Explique os eventos que podem contribuir para que o bullying ocorra, bem como, as consequências para os envolvidos. Você pode ainda dar dicas que possam auxiliá-los a identificar e sobre como proceder quando percebem que seu filho ou filha sofre bullying na escola.
6.      Por fim, fique atento ao que acontece nas suas aulas. Observar o comportamento de seus alunos durante as aulas e ouvi-los atentamente é fundamental.
Estar alerta e informado sobre o assunto é muito importante. O bullying não é uma brincadeira e pode produzir consequências negativas para os envolvidos que perdurarão por muito tempo.


Referências
Stelko-Pereira, A. C. & Williams, L. C. A. (2010) Reflexões sobre o conceito de violência escolar e a busca por uma definição abrangente. Temas em Psicologia, 18(1), 45-55.
Weimer, W. R. (2014) Violência e Bullying: Manifestações e consequências nas aulas de educação física escolar. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, 36(1), 257-274.
Williams, L. C. A., D’Affonseca, S. M., Correia, T. A., P. P. Albuquerque (2011) Efeitos a longo prazo de vitimização na escola. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia. 4(2). p. 187-199.

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